quarta-feira, 23 de março de 2011

MUDANÇA DE OFÍCIO

Cupido se meteu a poeta:

largou flecha
 usa pena

tinta preta
resma branca.

quarta-feira, 16 de março de 2011

REFLEXÕES EM FRASES VIII



A tinta está para o pintor como a palavra para o poeta.

Um grande escritor não escreve o que os leitores querem comprar, mas o que sua geração precisa descobrir.

O desafio maior do poeta não é criar um exímio poema, mas viver sua poesia, sobretudo.

Uma vida intensa pressupõe cicatrizes. Neste caso, tê-las: traços de telas.

Diz-se: “viva cada dia como se fosse o último". Digo, viva-o como se fosse o único.

A experiência amorosa pode ser comparada a um sol olhado do espaço, ou a uma flor. Aquele brilha para um quase sempre. Esta é tão bela quanto efêmera.

O que se vê na luz da manhã não é mais... ao crepúsculo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

ATAQUE POÉTICO


Fui atacado pela poesia dentro do carro. Meu destino, o trabalho. Eram 7:55 da manhã, parado na sinaleira, daquelas de três tempos, em meio ao transito caótico da cidade ci-vilizada. Peguei o celular e abri o editor de textos. ”Rápido”, disse para mim mesmo. Não era a preocupação com o sinal verde que aparecera no semáforo, mas com a inspiração que poderia passar! Então me mantive parado e engatei a primeira, nos versos. Fui construindo-os em meio à fumaça e motores acelerados. Buzinaram freneticamente! Intriguei-me: não se respeita nem os poetas... Continuei, claro...! Era um poema curto!
Desci do veículo, chateado, lembrei de Ferreira Gullar e gritei com uma voz bem empostada aos motoristas enfileirados atrás de mim... Será que vocês não sabem que "a arte existe porque a vida não basta"?!
O poema me custou alguns xingamentos, uma multa e um atraso no trabalho. Mas, me digam: valeu ou não valeu a pena? Pessoal, era uma poesia!

segunda-feira, 7 de março de 2011

MARIA, E AGORA...?

Ao dia da Mulher.
Celebrando esse ser belo, forte e mágico!



Sempre omitida

em sua jornada

calada, burlada

maltratada sem dó

sem ré, sem mi, sem fá, sem sol

apagada

des-musicada

cansada

pela jugo do falo.

Maria, e agora...?



Sem a chave na mão

quer abrir a porta

e nem tem porta

pr'ela poder entrar.

Seu rio secou

quer fugir pro mar-da-vida

mas o mar está poluído

Maria, e agora?!



Sua inteligente palavra

seu ventre poético

seu mundo de cores

não tinha voz

não tinha vez.

Nunca pôde cantar

seu canto

pungente

ser tudo que é

pois o macho poder

veio e desfez.

E agora, Maria...?!



— Eu não me dobro

Não emudeço

nem me troco

me rasgo em mil

se preciso for.

Desfaço o desfeito

sou mulher aguerrida

que quer mostrar

hoje e sempre sua tez.

Que não se prostra

diante das tretas

e insensatez

do poder androcêntrico

androfálico

andropênico

que ou murcha ou se iguala

à Vagina de vez!

 
E agora, José...?

Maria: e agora.

terça-feira, 1 de março de 2011

REFLEXÕES EM FRASES VII


Quando não se tem o compromisso de fingir, se é.


Somos a síntese e a antítese de nossas crenças e valores.

Nosso léxico, nosso tempo: espelho e identidade.

A satisfação não pode estar no fim do caminho, somente. Mas nas an-danças, sobretudo.

Nosso trabalho deveria ser que nem fazer amor; mas é comum ele assemelhar-se a um estupro, ou quando um pouco melhor, a uma obrigatória transa matrimonial.

A vida é mais do que sexo. Tudo anseia orgasmo.