Hoje: me sinto árvore
Hoje morre Manoel de Barros. Uma das figuras poéticas
mais importantes da contemporaneidade — e de
mensuras não calculáveis para mim.
Esse poeta tem um dos discursos mais tocantes que hoje
se pode encontrar. Poética que precisa grudar na humanidade. Como limo nas
pedras verdes.
Seu olhar vesgo para a poesia encontrava grandezas no
ínfimo, no traste: tinha desnumerações para grandes contabilidades. Seu ato
letral percorria a infância com ludicidade de inventos; transgredia a
linguagem; anunciava um retorno aos princípios, avanços para os começos, onde
balbuciávamos o vegetal dos nossos inícios. De onde fugimos para o maquinar-se.
Mia Couto traduziu bem meu sentimento em sua
declaração, a qual parafraseio:
Triste,
como se fosse parte de nós, que deixou de estar. Mas existem presenças outras
que estão para além do corpo e do tempo.
Hoje, "passarinho", Manoel é voo por onde
quer que asa de imaginação passe.
Hoje: me sinto árvore. Por pouso dele.
Artigos meus sobre a obra do poeta:
Memórias da Infância na poética de Manoel de Barros
Imagens Ecológicas na Poesia de Manoel de Barros
Vídeo declamação do poema “Matéria de Poesia”
AMOR DE LUA CHEIA
ResponderExcluirEra quase um sonho
Aquele no qual eu vivia
Realidade e amor
Nem sempre combinam
Apenas nos entregamos
Acomodados ao que determinam
E nos fazemos de felizes
Pra sermos invejados
Feito a lua cheia
Que todos os meses
Esplendorosa se faz desejada
Por todos que olham para o céu
Um grande amor
Faz com que sejamos lua e estrela
Num mundo onde a escuridão
É o que normalmente prevalece
Mário Feijó
17.12.14
EU NÃO TENHO COMPETÊNCIA PARA O AMOR
ResponderExcluirHoje mais do que nunca
Eu descobri que te amo
Intensamente, mas tão intensamente,
Que penso não ter competência
Para poder te amar
A roseira nasce para dar botões
E depois transformá-los em rosas
E as rosas já nascem com competência
De alegrar e perfumar a vida
Mas a minha competência
Para o amor é limitada
Eu não tenho mais vigor
Para o teu amor
Agora eu sinto isto
Vejo pelos amores que se foram
Vejo pelos adeus que já dei
Eu realmente não tenho
Competência para te amar...
Mário Feijó
17.12.14