quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SELAS DE AULA


Ser professor – acredito, mas do que nunca, é um desafio imenso, que consome muita energia, e que para muitos já se tornou uma frustração: “educastração” (de si mesmo e de do outro). A questão se pauta em alguns pontos cruciais que, para sofrerem mudanças salutares, precisam de um esforço conjunto entre vários entes que estão ligados direta ou indiretamente ao processo de Educação no país, a saber, os principais: pais, estudantes, professores e políticos (parlamentares e governantes).
Primeiro: tiremos a exclusiva responsabilidade da educação do giz/pincel do professor/a. Os pais precisam dar total apoio neste processo. Dentro de casa e na escola, discutindo com seus filhos, com os professores/as e diretores/as o melhor para o processo pedagógico.
Aos políticos cabe o compromisso real com o país e não com seu umbigo e bolso (mensalão, cartão corporativo, nepotismo etc.); e que, como resultado deste compromisso, tomem medidas drásticas, repito, drásticas, e efetivas para uma revolução a curto-médio prazo na educação desta nação.
Há muitas medidas a serem tomadas, de fato. Entretanto, uma das principais e mais urgentes é dar dignidade salarial/remuneratória aos agentes pedagógicos. Chega de desvalorização! O/A professor/a é um profissional que precisa e merece ser bem valorizado, bem pago, e assim, incentivado a pesquisar, a se atualizar, a criar e até mesmo permanecer na sua profissão.
O Governo através de uma recente campanha publicitária na TV vem buscando incentivar as pessoas a seguir profissionalmente os caminhos do magistério. Por quê? Porque o contrário é que está acontecendo. Conheço colegas que se formaram comigo e nem sequer pensam em pisar o pé na escola. Querem seguir outras carreiras. Pior, conheço vários professores dos ensinos fundamental e médio que estão – depois de um bom tempo de docência – abandonando as salas para irem procurar emprego no comércio, na indústria e – principalmente – em instituições púbicas que pagam mais e onde se é mais valorizado. A castração – com raras exceções – é geral nas instituições escolares. E ninguém quer perder o seu orgasmo. Todos e todas querem fazer o que gostam e serem bem retribuídos por isto.
Deste modo, ou as condições educacionais mudam (torço e quero ser instrumento para isso) de forma contundente, ou o contexto escolar será um lugar para poucas/os heroínas/heróis e/ou para muitas/os fingidoras/fingidores, agentes da educastração, que farão das salas selas de aula – como já infelizmente acontece.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A MÁGICA DE SER CRIANÇA MESMO ENQUANTO ADULTO


Eu não sei por que, mas desde o início de minha juventude desejei ter uma filhinha, uma criança. Presumo que queria contemplar nela algo que não podia mais ver em mim. Fico agora pensando nas suas possíveis risadas bobas em um momento sério meu, quando estivesse eu ainda de cara enfezada; nas suas brincadeiras fora de hora quando me encontrasse chateado, e na sujeira que ela fizesse na sala, misturada a brinquedos quebrados – que há algumas horas estavam em perfeito estado. Fico imaginando como reagiria a isso tudo...
Acho que talvez eu risse e brincasse com ela, e me lançasse junto à sujeira, encarando o mundo de forma mais lúdica e onírica. Ou brigaria com ela e lhe poria de castigo, seria rigoroso: afinal sou adulto.
Tenho para mim que as crianças têm – mesmo – muito a nos ensinar, só que não temos tempo nem humildade para isto, para aprendermos com elas. E acho também que nossas escolas e faculdades não nos ensinam tanto assim...
O que realmente nos ensina a viver é a professora chamada Vida, que se utiliza da didática da Experiência, que não está entre quatro paredes, mas se localiza no caminho, na observação do mundo, quando lemos as pessoas e temos a sensibilidade de contemplar o belo nas coisas mais simples; e ainda, quando percebemos a existência com o olhar das crianças e nos relacionamos com o mundo tal qual elas o fazem.
É-nos perceptível que, a princípio, as crianças desconhecem as regras, mas estas lhes são impostas, e já estão prontas antes delas nascerem. Mas como filósofas que são – quem deixamos de ser quando “crescemos” – não as permitem passar sem o seguinte questionamento: “por quê?”. Eu não sei se eu teria todas as respostas para a minha filha, mas tentaria respondê-la de forma mais sincera e profunda às suas indagações; talvez, até com uma outra pergunta, por não saber o que dizer ou responder. Mas se eu já tivesse uma resposta pronta e “certa” – como muitos de nós achamos que temos - ainda assim gostaria de perguntar a opinião dela, e até estaria mesmo disposto a mudar a minha, se ela me desse um contra-argumento convincente (o que não seria muito difícil). Deste modo, penso que nossas opiniões sobre a vida devem ser mais reticentes, e menos conclusivas, abertas para as diversas possibilidades de respostas dos porquês. Por isso, um apelo... Consultemos as crianças! Peçamo-las para rever nossos textos clássicos, quem sabe elas nos ajudam a transformá-los em poesias e contos infantis...? Elas estão prontas e aptas a nos ensinar sobre a vida pelo método que posso chamar de pedagogia da essência.
O que viria a ser essa tal pedagogia...? É o ensino que parte do pressuposto de que ainda não aprendemos o que realmente importa para nossa existência, e nos mostra o que de fato deve ser alcançado e vivenciado para que sejamos felizes tanto quanto estes pequeninos iniciantes da vida; que perdemos muito tempo com futilidades, tais quais: negócios, protocolos, cerimônias, reuniões infrutíferas, cumprimento de regras ilógicas e hipócritas, etc. Honestamente, acho que o que realmente importa é brincar. Principalmente as brincadeiras cuja regra mor é o amor. Acho que ludicidade é coisa de quem encara a vida de forma muito séria, só que sem prescindir da risada.
Em suma, o mundo é um parque, cheio de desafios e aventuras. Vivamos então a mágica atitude de ser criança, mesmo enquanto adultos; pois o que todo mundo busca realmente é pongar na incrível montanha-russa da existência e ser feliz.
Mas, nem todos conseguem. Preferem, apenas, ser adultos...