domingo, 29 de março de 2020

CORRIDA




Correndo pra lugar nenhum, fomos obrigados a pararmos
em nós mesmos. Nos nossos lofts, aps, barracos e mansões. Quando muito, saímos para alguns megabytes de distância
nas nossas redes sociais. Estamos quedados:
entre paredes brancas, azulejos, barro ou papelões; telas, polegadas.
Estamos no cerco de nós mesmos. Na margem dos nossos, dos que nos cercam, estranhos: conhecidos de mais.


Observamos o silêncio. O perplexo. Um ser que se move em muitos, nos deixa paralisados ante a fragilidade do fio da vida – que a qualquer hora se rompe:
como um corte de energia elétrica
cálice de vidro quando cai
um prato de comida ante a fome.
Some.

E a vida
novamente se refaz
em escuridões e estilhaços
alimentados de uma esperança ainda que frágil
Mas – e mais – que gigante.


              *** 

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