O mais recente livro de Rubem Alves é escrito por quem encheu o saco de teorias insípidas e epistemologias insossas. De quem cujo laboratório agora é a cozinha: “degustar a vida” é a proposta essencial.
Bastante inspirado em Barthes, o autor se volta ferozmente ao academicismo, aos cientistas e filósofos – de certa forma até exagerada. Na sua opinião, o absolutismo da razão engaiola a vida: “não há pássaros soltos de vôo imprevisto” no mundo positivista em que ainda vivemos. Ele faz uma distinção entre os filósofos e os poetas: os aqueles “pensam sob a luz de lâmpadas fluorescentes”; estes, “sob a luz de velas”... Afirma que o problema de alguns eruditos é que eles leem “até ficarem estúpidos”. E declara que as universidades estão cheias deles.
O escritor dialoga também com Nietsche e com a cozinheira Babette, com os poetas Adélia Prado, T.S. Eliot, Fernando Pessoa e Manoel de Barros. E convida-nos às desaprendências...
Declara o autor que temos medo do prazer. Não sabemos lidar com. Ou exageramos para menos ou para mais. E aponta uma causa disso: “a espiritualidade ocidental foi construída sobre a negação do prazer”. Aí me lembrei de um verso que eu mesmo escrevera um tempo atrás: “o pecado assumiu a paternidade do prazer...”.
Como de praxe, ele também entra no campo da Educação e faz uma assertiva: “a escola não ensina o sabor”. E por isso que não se educa: quando muito, se transmite dados. Neste momento faz alusão a Paulo Freire como proposta.
Assim, o autor vai sugerir ao leitor(a) que ele/ela ao invés de tentar compreender a vida, deguste-a. E lança mão de um verso de Pessoa, que diz: “sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo...”.