sexta-feira, 29 de julho de 2011

COISA DE DAR EM ÁRVORE

Imagem: Erika Thorpe

Quando eu ainda não estava na casa dos vinte, e via o mundo sem muitos compromissos – mais brincante e engraçado –, uma das coisas em que eu me divertia era subir nos pés de manga e goiaba do quintal de casa, ambos altos e frutíferos.

Era uma aventura aquilo... A subida era o primeiro desafio. Não gostava de colocar banco ou cadeira pra ajudar. Não raro, escorregava e me arranhava todo. Quando chegava lá me cima: um triunfo! Conseguia enxergar o mundo doutro ponto de vista, do ponto de vista do pé de goiaba e do pé de manga. Eles vêem melhor que a gente...



Sentia-me meio selvagem alí... Sabia que, quando descesse, encontraria cimento e paredes, e me tornaria novamente humano.


Mais gostoso do que comer fruta do pé é comê-la no pé. Entre galhos, folhas e bichinhos que só lá em cima se vê. Aí minha mãe lá da cozinha gritava: “Weslley, ranca umas goiaba madura aí pra fazer suco pro almoço. E desce logo que é pra ir pra escola, senão chega tarde...” Colocava as goiabas nos bolsos do short (e às vezes até na cueca) e descia meio desequilibrado.


As mangas verdes... Comia com sal e acrescia de quando em vez pimenta do reino. Minha mãe ficava aguniada, reclamava direto: “isso dá gastrite, menino!”. Mas quem é que ligava...


Dos pés de manga eu subia na laje da casa que estava construindo. E ia também para cima dos telhados da casa construída. Parecia macaco. Não tinha banana. Mas tinha manga e goiaba.


Não sei se admiro a vida dos índios porque tive essa experiência, ou se tive essa experiência porque queria ser índio. O fato é que me sentia diferente lá em cima. Apesar de estar sobre galhos e troncos, a sensação... era de que eu levitava.

terça-feira, 26 de julho de 2011

ERA


Vejo um ser sem camisa

de longe conto

da costela os ossos

nos pés não tem

nada

no bolso

nada

nada também na barriga

e nada no futuro

(em qualquer tempo)



Esse ser...

era uma criança.

Era.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

CREPUSCULAR



Girassóis me cumprimentam ao entardecer.

Margaridas pegam em minhas mãos:

correm comigo.

Enquanto os cílios da grama carente

meus pés

acariciam.