domingo, 24 de abril de 2011

VARIAÇÕES SOBRE O PRAZER


O mais recente livro de Rubem Alves é escrito por quem encheu o saco de teorias insípidas e epistemologias insossas. De quem cujo laboratório agora é a cozinha: “degustar a vida” é a proposta essencial.

Bastante inspirado em Barthes, o autor se volta ferozmente ao academicismo, aos cientistas e filósofos – de certa forma até exagerada. Na sua opinião, o absolutismo da razão engaiola a vida: “não há pássaros soltos de vôo imprevisto” no mundo positivista em que ainda vivemos. Ele faz uma distinção entre os filósofos e os poetas: os aqueles “pensam sob a luz de lâmpadas fluorescentes”; estes, “sob a luz de velas”... Afirma que o problema de alguns eruditos é que eles leem “até ficarem estúpidos”. E declara que as universidades estão cheias deles.

O escritor dialoga também com Nietsche e com a cozinheira Babette, com os poetas Adélia Prado, T.S. Eliot, Fernando Pessoa e Manoel de Barros. E convida-nos às desaprendências...

Declara o autor que temos medo do prazer. Não sabemos lidar com. Ou exageramos para menos ou para mais. E aponta uma causa disso: “a espiritualidade ocidental foi construída sobre a negação do prazer”. Aí me lembrei de um verso que eu mesmo escrevera um tempo atrás: “o pecado assumiu a paternidade do prazer...”.

Como de praxe, ele também entra no campo da Educação e faz uma assertiva: “a escola não ensina o sabor”. E por isso que não se educa: quando muito, se transmite dados. Neste momento faz alusão a Paulo Freire como proposta.

Assim, o autor vai sugerir ao leitor(a) que ele/ela ao invés de tentar compreender a vida, deguste-a. E lança mão de um verso de Pessoa, que diz: “sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo...”.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

REFLEXÕES EM FRASES IX



A gramática está para o poeta assim como a razão para a paixão.


Meu corpo (que sou eu mesmo), não raramente, discorda de mim; às vezes retruco, outras, silencio...

O defeito que se quer enxergar no outro está muitas vezes latente em quem o procura.

Shangri-La, sangra aqui...?

Nós ocidentais temos uma gritante dificuldade: o silêncio.

domingo, 10 de abril de 2011

DA INUTILIDADE

Aos sobrinhos David, Katy e Levi.

Quando eu era pequeno jogava gude, empinava pipa, tomava banho nas bicas improvisadas das casas nos dias de forte chuva; andava de pés nus, sentindo os grãos da terra.

Então, um dia chegou a hora de adultecer. Eu deveria crescer e ser útil.

Hoje - com meus 28 e 1.79 - me dá uma saudade de meu tempo de inutilidade...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

DA CRIAÇÃO

Imagem: Gary Smith



A mangueira relatou que tudo começou da árvore Mãe com seu caroço gigante, de onde saiu o mundo.

A centopéia disse que a divindade maior era cheia de pernas e que isso simbolizava um pé em cada lugar (onipresença), e em cada lugar um ato de existência.

O homem disse que Deus criou tudo e no sexto dia fizeram eles – seres humanos – para a Terra subjugar.

Logo dentro em breve nem a manga e seu caroço, nem a centopéia e suas patas, quiçá Deus, subsista para sua história contar...