As lembranças de Riobaldo num
fôlego, perturbadas pelas suas contínuas dúvidas, Reinaldo-Diadorim,
Deus-homem-diabo.
A geografia física, política e poética do Sertão. O mundo
representado entre jagunços. “O diabo na rua, no meio do redemoinho...”
Seguem fragmentos dessa obra do
escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), as quais foram marcadas no meu livro
pessoal, e que compartilho aqui.
*
1. O senhor sabe: pão ou
pães, é questão de opiniães...
2. O sertão está em toda
parte.
3. Quem muito se evita, se
convive.
4. Viver é negócio muito
perigoso...
5. A mandioca-doce pode de
repente virar azangada [...] de si mesma toma peçonhas.
6. Tudo é e não é...
7. Eu sou é eu mesmo.
Divêrjo de todo mundo. Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
8. O senhor sabe: sertão é
onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha
armado!
9. Mire veja: o mais importante
e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não
foram terminadas...
10. Perto de muita água,
tudo é feliz.
11. Não sou homem de
meio-dia com orvalhos...
12. Moço: toda saudade é
uma espécie de velhice.
13. Abracei Diadorim, como
as asas de todos os pássaros.
14. Órfão de conhecença e
de papéis legais, é o que a gente vê mais, nestes sertões.
15. Numa alegria feito
nuvem de abelhas em flor de araçá
16. Deus existe mesmo
quando não há
17. Viver é um descuido
prosseguido
18. Cavalo que ama o dono
até respira do mesmo jeito
19. O sertão é do tamanho
do mundo.
20. Vingar, digo ao senhor:
é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais.
21. Viver... O senhor já
sabe: viver é etcétera...
22. O jagunço é o sertão.
23. Muita coisa importante
falta nome.
24. Deus é uma plantação.
25. Sertão é isto, o senhor
sabe: tudo certo, tudo incerto.
26. Quem vai em caça, perde
o que não acha...
27. Mas a natureza da gente
é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor.
28. A gente só sabe bem
aquilo que não entende.
29. Natureza de gente não
cabe em nenhuma certeza.
30. Pegaram nas mãos do céu
com mãos de azul.
31. O sertão é confusão em
grande demasiado sossego...
32. Tudo, nesta vida, é
muito cantável
∞
Alguns neologismos:
Desesxistir
Me olhantes
Plenipotências
Nomes para o demônio:
O Arrenagado, o Cão, o
Cramulhão, o indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o
Côxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-preto, o Canho, o
Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o
Sem-Gracejos.