quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nonada, onde tudo acontece – percepções de Grande Sertão: Veredas


As lembranças de Riobaldo num fôlego, perturbadas pelas suas contínuas dúvidas, Reinaldo-Diadorim, Deus-homem-diabo. 
A geografia física, política e poética do Sertão. O mundo representado entre jagunços. “O diabo na rua, no meio do redemoinho...”

Seguem fragmentos dessa obra do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), as quais foram marcadas no meu livro pessoal, e que compartilho aqui.

*

1. O senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
2. O sertão está em toda parte.
3. Quem muito se evita, se convive.
4. Viver é negócio muito perigoso...
5. A mandioca-doce pode de repente virar azangada [...] de si mesma toma peçonhas.
6. Tudo é e não é...
7. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo. Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
8. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!
9. Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas...
10. Perto de muita água, tudo é feliz.
11. Não sou homem de meio-dia com orvalhos...
12. Moço: toda saudade é uma espécie de velhice.
13. Abracei Diadorim, como as asas de todos os pássaros.
14. Órfão de conhecença e de papéis legais, é o que a gente vê mais, nestes sertões.
15. Numa alegria feito nuvem de abelhas em flor de araçá
16. Deus existe mesmo quando não há
17. Viver é um descuido prosseguido
18. Cavalo que ama o dono até respira do mesmo jeito
19. O sertão é do tamanho do mundo.
20. Vingar, digo ao senhor: é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais.
21. Viver... O senhor já sabe: viver é etcétera...
22. O jagunço é o sertão.
23. Muita coisa importante falta nome.
24. Deus é uma plantação.
25. Sertão é isto, o senhor sabe: tudo certo, tudo incerto.
26. Quem vai em caça, perde o que não acha...
27. Mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor.
28. A gente só sabe bem aquilo que não entende.
29. Natureza de gente não cabe em nenhuma certeza.
30. Pegaram nas mãos do céu com mãos de azul.
31. O sertão é confusão em grande demasiado sossego...
32. Tudo, nesta vida, é muito cantável

Alguns neologismos:
Desesxistir
Me olhantes
Plenipotências

Nomes para o demônio:
O Arrenagado, o Cão, o Cramulhão, o indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Côxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos.