Hoje: me sinto árvore
Hoje morre Manoel de Barros. Uma das figuras poéticas
mais importantes da contemporaneidade — e de
mensuras não calculáveis para mim.
Esse poeta tem um dos discursos mais tocantes que hoje
se pode encontrar. Poética que precisa grudar na humanidade. Como limo nas
pedras verdes.
Seu olhar vesgo para a poesia encontrava grandezas no
ínfimo, no traste: tinha desnumerações para grandes contabilidades. Seu ato
letral percorria a infância com ludicidade de inventos; transgredia a
linguagem; anunciava um retorno aos princípios, avanços para os começos, onde
balbuciávamos o vegetal dos nossos inícios. De onde fugimos para o maquinar-se.
Mia Couto traduziu bem meu sentimento em sua
declaração, a qual parafraseio:
Triste,
como se fosse parte de nós, que deixou de estar. Mas existem presenças outras
que estão para além do corpo e do tempo.
Hoje, "passarinho", Manoel é voo por onde
quer que asa de imaginação passe.
Hoje: me sinto árvore. Por pouso dele.
Artigos meus sobre a obra do poeta:
Memórias da Infância na poética de Manoel de Barros
Imagens Ecológicas na Poesia de Manoel de Barros
Vídeo declamação do poema “Matéria de Poesia”