Confrontar-se
consigo mesmo, numa imagem. Contrastar a expectativa do olho com o objeto
refletido. A projeção do olhar do outro impressa no nosso olhar. Cada ponto de
vista é de um ponto visto.
...
Seu Narciso era
fazedor de espelhos. Espelhos de quarto, de sala, de banheiro. Espelhos de
pentes e escovas, que refletiam a capilaridade dos tempos. Mas ele nunca que se
encarava na vidraçaria dos dias...
Morava e
trabalhava em uma casa velha, abandonada e vazia. Aprendeu o ofício de espelhos
por hábito antiquíssimo: milenar. Mas nunca se olhava no espelho. Repito,
nunca. Em sua memória havia apenas uma imagem inventada de si mesmo.
Um dia,
encontrou-se de fato consigo, quando despercebido, olhou num lago cristalino.
Prostrou-se, comiseradamente. Real e feia era sua feição. Viera o peso dos
séculos... Deixara – naquele momento – de ser vampiro.